Crónica à distância
A QUESTÃO DOS ESPOLIADOS

Questão ainda não resolvida com a justiça, em Portugal, é a daqueles que foram espoliados no seu património, pela «revolução» do 25 de Abril.

 Evidentemente que o actual Governo da República não é o responsável  por tais atropelos. Se calhar é um País Inteiro, por nunca terem sido pedidas responsabilidades aos seus autores.

Depois de feitas as asneiras, foi ninguém. Depois de  cometidos os erros, nunca foi ninguém.

Preocupa-me mesmo que, ainda hoje, num Portugal democrático e europeu, nada comparado aos tempos das selvajarias da « abrilada», haja um certo receio de recordar essas poucas-vergonhas e de chamar malandros a todos os que as provocaram.

Este esquecimento cúmplice, pode inclusive facultar que, um dia, a Historia se  repita por falta do necessário esclarecimento  e informação das gerações futuras.

Não há duvida que a necessidade de indemnizar todos os espoliados ou roubados pelo 25 de Abril é uma tarefa muito complicada para a situação financeira que ainda se vive  no Estado Português, esta embora  muito melhor do que há cinco anos para trás, nos socialismos de má memória.

Mesmo aos que usurpados em África pelos governos angolano, moçambicano, guineense, são-tomense  ou cabo-verdiano, no entanto, o Estado Português sempre tem um instrumento de peso na sua  mão. É que ao mandar-lhes uns dinheiritos que tanta falta vão fazendo aos portugueses  - aqui o «povo unido» não protesta - devia exigir, paralela  e em contrapartida, devoluções de bens portugueses aos seus legítimos e respectivos proprietários.

Claro que, se estes problemas têm de ser encarados com realismo, tendo em conta as reais possibilidades do Estado português, das financeiras às externas, a verdade é que não se pode protelá-los, deixando-os nas prateleiras das coisas destinadas a ver se esquecem. Bem como a sua solução não pode comprometer o futuro nacional, atendendo ao actual esforço de recuperação e de reorganização de Portugal.

Aliás, o País deve muito aos espoliados, nacionalizados e roubados, quer na Metrópole quer no ex-Ultramar. Estes souberam enfrentar as situações com a maior coragem e civismo, dando prioridade ao restabelecimento das liberdades em Portugal, quando ameaçadas pelos «comunas».

Por isso mesmo, agora em fase de recuperação, o Estado Democrático deve assumir a dívida de gratidão que tem para com estes portugueses.
 
 

Por Alberto João Jardim
(In Século de Johannesburg - 27/08/1996)