A Associação dos Espoliados
de Moçambique (AEMO), em representação dos seus associados,
vem comentar parte da entrevista de Chissano ao DN, solicitando que entreviste
a AEMO sobre o assunto, uma vez que estão em causa factos
históricos e de reposição da verdade; ou, pelo menos,
que sejam publicados os comentários que abaixo produzimos, com o
destaque adequado e que é merecido, supomos, pelos milhares de cidadãos
portugueses a quem a notícia respeita, muitos deles, sem dúvida,
leitores do DN.
Excerto da entrevista a comentar: muitas das empresas « estão a retornar a mãos privadas, como deviam ter permanecido se não tivessem fugido os colonos e se não tivesse havido grande sabotagem económica, que obrigou o Estado a intervir». Comentários (necessariamente breves): O actual Presidente, Joaquim Chissano, foi, desde 1974, elemento muito preponderante na governação de Moçambique, tendo mesmo integrado o Governo de transição que antecedeu a independência formal do país. Não tendo, portanto, chegado agora à política, não se recordará o senhor Presidente da prepotência e facciosismo da maior parte dos grupos dinamizadores?; da impreparação de muitos militares da Frelimo, chamados, na época, a tarefas de gestão económica e administrativa?; do critério, apenas político, que presidiu à nomeação de muitos dos novos quadros, o que fez deles elementos inúteis, senão nefastos, na nova nação que se pretendia criar?; da insegurança que se colava à pele e que decorria da lei feita no momento e por quem, no momento, tinha de decidir?; das sevícias, maus tratos e expulsões a que foram sujeitos muitos residentes?; da vergonha (que página tão negra!) dos campos de reeducação?; do colapso económico que cedo se perspectivou e teve continuidade sem que o Governo tentasse sequer impedi-lo?; da paralisação dos usuais circuitos económicos, o que inviabilizou a actividade de muitos para quem a esperança era ainda um horizonte?, da estratégia económica de eliminação da propriedade privada, bem na linha da filosofia política da Frelimo de então?. Não se recordará também o senhor das indefinições, ao nível político e de comando, que então caracterizavam Portugal, cujos responsáveis foram incapazes de dialogar com a Frelimo em termos de defesa de direitos humanos (impunha-o a justiça, o direito interno e o direito internacional)? Perante isto (e são exemplos), os «colonos» fugiram? Praticaram sabotagem económica? Pelo contrário, senhor Presidente: os «colonos», abandonados por Portugal e odiados pelo Governo de Moçambique, foram expulsos uns, escorraçados outros e todos espoliados dos seus bens. Foram ( e em certa parte continuam sendo) bodes expiatórios de situações que os políticos não conseguiram ultrapassar ou dar solução. A história (carrasco dos políticos, como alguém disse) lhes fará um dia justiça. Por agora vendam-lhe os bens, embolsem a receita, mas larguem-lhes a honra. De qualquer modo, as nossas saudações,
senhor Presidente, e muito sinceros votos de prosperidade para Moçambique.
AEMO – Associação dos Espoliados
de Moçambique
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