No dia 3 deste mês de Junho, assistimos ao programa da TVI intitulado "EM LEGÍTIMA DEFESA", cujo assunto, em termos gerais, tratava da legitimidade das indemnizações exigidas ao ESTADO PORTUGUÊS (perdas morais e materiais sofridas) por ex-residentes de Angola e Moçambique aquando da “descolonização" desses territórios. Mais precisamente, a acção jurídica contra o Estado, representada pelo queixoso Angelo Nóbrega. Como advogados de defesa e acusação intervieram a Dr.ª Paula Teixeira da Cruz e um tal de Sousa Tavares, que dizem ser também advogado. De facto, o tal de Sousa Tavares, durante as suas lamentáveis intervenções apenas conseguiu provar que é falho de inteligência. Senão, vejamos os aspectos mais importantes da tese que desenvolveu: 1 - Os ex-residentes em Angola e Moçambique não devem ser indemnizados, porque estavam explorando uma terra que não era deles e quando surgiram as primeiras independências no continente africano deviam, de imediato, ter-se acautelado e fugido para Portugal ou outra parte qualquer; 2 - A culpa de tudo que aconteceu foi dos ex-residentes daquelas terras, que descriminavam o negro; 3 - Muitos dos “RETORNADOS" têm hoje posições de destaque na sociedade portuguesa, o que é mais uma razão para não serem indemnizados, pois Portugal proporcionou-lhes a melhor reintegração; 4- Por causa das guerras de África (a GUERRA COLONIAL), vieram muitos militares estropiados que -desperdiçaram a sua juventude naqueles conflitos e, também, não foram indemnizados; 5 - Dos 800 “Retornados" espoliados que processaram o Estado Português cada um está a pedir, em média, 50 mil contos, o que é escandaloso; 6- A tropa portuguesa, naquela altura, não .defendeu os portugueses porque não podia enfrentar os guerrilheiros dos MOVIMENTOS DE LIBERTAÇÃO, que eram em número superior e estavam melhor armados; 7 - Naquele tempo, muitos jovens tiveram de emigrar para o estrangeiro, devido às más condições de vida em geral, o que hoje já não acontece porque se vive bem em Portugal; 8 - Não havia na África portuguesa gente negra ou mestiça com formação superior. Não havia mais de 100 em 1973; 9 - Portugal, devido à guerra colonial, estava em ruína, exangue, por isso o golpe de 25 de Abril para acabar com a guerra colonial. Analizemos agora, então, os vários aspectos atrás referidos da “brilhante" tese do tal de Sousa Tavares e segundo os pontos focados: 1- É caso para dizer-se que, então, os timorenses não têm nada de que se queixar, porque também deviam ter previsto o que aconteceu e, por isso fugido a tempo. Quem fez Timor foi Portugal e, quando lá chegaram os portugueses, esse território já estava habitado. A partir do momento em que lá se instalou o Governo Português passaram os habitantes locais a ser portugueses mas de origem timorense. Também para Iá foram portugueses do Continente, que cruzaram o seu sangue com o da população local, tal como aconteceu em Angola e Moçambique. Portugal não reconhece a anexação de Timor ao território indonésio e considera-se a potência administrante; logo, Timor não é território indonésio e os timorenses são portugueses, porque ainda não são independentes. Sendo portugueses, e de acordo com o raciocínio do tal de Sousa Tavares, fizeram muito bem os timorenses que estão hoje na Austrália, em Portugal e noutras parles do Mundo em terem abandonado os seus bens e a terra onde viviam e tanto amavam. Os que lá ficaram só têm de fazer uma coisa: fugir de qualquer maneira! Nada têm, então, o bispo D. Ximenes Belo e os Srs Manuel e Mário Carrascalão que se queixarem, nem pedirem ajuda, pois é muito bem feito já que deviam, antes de mais, terem tido apenas a preocupação de se baldarem. Note-se que o castigo deveria ter sido pior para a família de Carrascalão, porque o pai dos referidos irmãos era um colono português e os seus filhos também ainda o são. Não sabe o tal de Sousa Tavares que em Angola e em Moçambique aconteceu precisamente o mesmo a quem lá vivia e que também houve a mistura de sangue e pessoas que quiseram viver e morrer naquelas terras e que, graças à descolonização feita pelo Governo Português marxista e por quejandos, o resultado foi o que aconteceu em Moçambique e o que está a acontecendo em Angola e em Timor ? 2- A responsabilidade do que acontece nos diferentes países cabe aos respectivos Governos. Vêm-me à memória as imagens visuais e sonoras de alguns discursos de responsáveis pela descolonização, como por exemplo Costa Gomes, dizendo pela Rádio que o. portugueses não tivessem receio porque teriam a protecção do Governo Português às suas vidas e bens, e Almeida Santos. que no aeroporto de Nova Lisboa (envergando uma capa negra de estudante) se dirigiu à população afirmando que ela podia confiar no Governo de Lisboa. (Naquele dia e àquela hora eu estava ao pé desse indivíduo). Também o "almirante vermelho” (Rosa Coutinho) ao chegar a Luanda garantiu ao povo que o esperava que nunca deixaria que Angola se transformasse num segundo Congo ou num segundo Vietname. Pena foi, na altura, não ter lá estado o tal de Sousa Tavares, porque nunca teríamos sido enganados e, com certeza, teríamos todos a possibilidade de salvar os nossos bens, as nossas vidas, como aliás o fez Almeida Santos (actual presidente da Assembleia da República). 3- Neste ponto, o tal de Sousa Tavares entra em contradição e confirma que, afinal, os depreciativamente apelidados de "retornados" ocupam posições de destaque na sociedade portuguesa, pela reintegração que Portugal lhes proporcionou. É que, se eles têm valor aqui, depois da traição sofrida, também o tinham lá e, por isso, terem desenvolvido um trabalho de mérito em África. 4- É irónico pensar e assistir à partida dos actuais soldados portugueses para terras, essas sim, verdadeiramente estrangeiras, corno foi a Bósnia e agora é o Kosovo, para lutarem e morrerem por uma causa que nada tem a ver com Portugal, ao contrário do que acontecia antes com Angola, Moçambique e Guiné. Para aí havia uma forte justificação! Agora, a justificação é a NATO e como a NATO sem a AMÉRICA nada é, então os nossos soldados já podem morrer pela América. Estou a lembrar-me daquele jovem soldado nosso compatriota que morreu na Bósnla e que, ao contrário do que assistimos na Televisão sobre juras e promessas de apoio à sua família, feitas pelo Governo, sabemos que só lhe foi concedida uma pensão de miséria. Tenho pena de que aquele malogrado militar não tivesse antes ouvido o tal de Sousa Tavares, pois ter-se-ia livrado de morrer numa terra que não era a sua, tanto mais vítima de uma guerra. Devo lembrar ao tal de Sousa Tavares que, nas nossas ex-colónias, não eram só os soldados idos da Metrópole que ficavam estropiados ou morriam. Isto também acontecia aos militares portugueses nascidos em África, branco., negros ou mestiços. Acrescento, para seu conhecimento, que as populações locais (especialmente as do interior) faziam a sua autodefesa; a elas. se deve a defesa de Angola após a eclosão do terrorismo em 1961. Concordo plenamente que se paguem indemnizações aos militares que na luta pelo seu e nosso país ficaram estropiados: mas, infelizmente (e dada a ingratidão da Pátria por tais sacrifícios) tais indemnizações virão a ser pagas se os afectados pela guerra se organizarem e processarem o Estado Português - o que será vergonhoso! 5 - O tal de Sousa Tavares fez contas e achou escandalosa a média de cinquenta mil contos que cada espoliado pede. Se contabilizarmos os danos morais por vidas perdidas e carreiras cortadas, e toda a infâmia a que foram submetidos aqui, na Pátria (que diziam também ser a deles...) tal quantia nada tem de escandalosa. Ou será que a vida de um ser humano vale apenas doze mil contos, ou não tem nenhum valor, como fizeram com os hemofílicos e com o estudante electrocutado num semáforo de Lisboa? 6 - Quanto ao ponto seis, o mínimo que podemos dizer é que durante a descolonização o exército português dispunha de força aérea, mas os Movimentos de Libertação não. Se não se recorreu a este ramo das Forças Armadas foi porque não houve vontade de o fazer e isso só prova que havia a intenção de não se proteger ninguém. Daquilo que afirmou o coronel que foi testemunha de acusação do tal de Sousa Tavares, tive ocasião de assistir ao contrário... Isto é, os militares portugueses estavam melhor armados e em número superior e, mesmo assim, nada fizeram para proteger as populações e os seus bens dos assassinatos e das pilhagens. Não sei se o dito coronel, ao prestar o seu testemunho, pretendeu dizer que na generalidade dos casos a tropa portuguesa pouco ou nada fez porque os outros eram melhores e em maior número. Se foi essa a intenção, é caso para perguntar porque foi que esse indivíduo também não fugiu ? O que foi que lá andou a fazer em duas comissões ? . Ou a sua presença e a dos homens que comandou serviu apenas para apoiar os “camaradas” ?! 7 - Como é que esse tal de Sousa Tavares explica a emigração (que ainda hoje existe) de portugueses que inclusivamente vão para países onde a qualquer momento pode surgir um conflito armado, ou onde o nível de criminalidade é elevado? É estranho que assim aconteça porque, segundo o tal de Sousa Tavares disse, os portugueses nos dias de hoje vivem bem em Portugal, pelo que não existem razões para haver emigrantes. 8 - O tal de Sousa Tavares pediu ao queixoso Ângelo Nóbrega o exemplo de algum negro ou mestiço licenciado e ocupando posições de destaque na sociedade angolana ou moçambicana. Em 1973 lidei e conheci bastantes licenciados que fizeram o seu curso em Portugal e outros já nas Faculdades de Angola; e grandes famílias, como as dos Van-Dunem, dos Azancots de Menezes, dos Noronhas, dos Almeidas, dos Amarais, dos Mac-Mahon, dos Pedreiras, dos Fançoni, etc., com membros licenciados em Engenharia, Farmácia, Direito, e professores que exerciam actividade de grande relevo, para não falar nos que foram deputados, governantes ultramarinos e funcionários superiores nas Nações Unidas. 9 – “Quando se deu o 25 de Abril, Portugal estava exangue de dinheiro, pelo esforço da guerra colonial". É a cassete da gente da esquerda, ou de todo aquele que sorveu sofregamente a campanha que os comunistas fizeram contra os que "aportavam" em Portugal, estes sim, totalmente exangues pela traição sofrida, pelo desdém que a Nação lhes votou e pelo futuro incerto que lhes estava reservado! Até cá foram roubados, ardilosamente roubados, no dinheiro que a solidariedade Internacional lhes enviou e que logo foi desviado para safar da derrocada instituições que foram abaixo com o 25 de Abril... Como é que Portugal estava arruinado com a “guerra colonial", se só os diamantes de Angola a pagavam e assim corno a variada e rica matéria-prima que Angola era obrigada a fornecer à Metrópole a preços impostos por si próprio, o que representava muito na economia do país. Todas as províncias ultramarinas eram excedentárias à data do 25 de Abril, mas Angola tinha um desenvolvimento que se cifrava já em 13,5% / ano. As toneladas de ouro no Banco de Portugal foram de consoladora protecção às loucuras que logo a seguir ao 25 de Abril passaram a ser cometidas. A guerra em África coincidiu com anos de desenvolvimento económico bastante notável tanto em Angola, como em Moçambique e na Metrópole. Até prova em contrário, presume-se que todo o acusado é inocente. Esta é a frase muitas vezes dita por alguns cevados advogados da nossa praça quando em causa estão os direitos de outros tantos cevados (empastados de gel) - os ditos colunáveis. Para o tal de Sousa Tavares todos os que viveram em Angola e em Moçambique são culpados e o seu grande crime foi o de terem andado a trabalhar e a desenvolver aquelas terras. Não importa desconhecer quem são essas pessoas e o que fizeram em África, porque apenas merecem a classificação de culpados de tudo o que por lá aconteceu e, por isso, também merecem o desprezo e o desrespeito da sociedade portuguesa, assim como também nada reivindicar porque a isso não têm direito. Falando de Angola e de Moçambique e dos seus tempos anteriores às independências, com o seu ar de escárnio de revolucionário de cartilha mal decorada, pelo que o tiro saiu-lhe pela culatra. Sendo assim permito-me votar-lhe também o meu desprezo e a minha falta de respeito. Depois de ter assistido pela TVI às lamentáveis intervenções daquela "coisa" que dá pelo nome de Sousa Tavares, só posso concluir que a tal "coisa" não descende da evolução do Homo Sapiens mas é, com certeza, um dos últimos exemplares de evolução de alguns cercopithecus acéphalus. Acefaloide, sim, porque encimando o pescoço, esta entidade nosológica apenas tem um volume com muitas cassetes lá dentro. Assim o provou, quando ligou aquela nojenta cassete comunista que nada mais é que um concentrado de estupidez, bem ao nível dos seus autores e dos seus utilizadores. Apesar de tudo, a intervenção naquele programa do acefaloide serviu para alguma coisa - conseguiu fazer rir muita gente. Agora percebo, perfeitamente, porque havia bobos da côrte. Actualmente já os não há, mas felizmente para nós surgiram outros que divertem mais e muito mais gente. São os bobos da TELEVISÃO. Aqui reconheço o mérito do acefaloide. Que Deus o conserve assim para sempre, porque as suas próximas intervenções são hilariantes e o rir dá saúde. Aguardamos, com muito interesse, a próxima exibição das capacidades intelectuais de tal de Sousa 'Tavares, decepcionados por constatar que esta "ditosa Pátria" tais filhos tem! ALBANO NEVES E SOUSA (In "0 LOBITO"Junho 1999) |
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