«PORTUGAL não descolonizou,
abandonou territórios», afirmou ontem Durão Barroso,
secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação,
durante um almoço organizado pelo American Club.
Reforçando esta ideia, Durão
Barroso recordou os acordos de Alvor, onde nenhuma cláusula existiu
para sancionar o seu incumprimento. Explicando esta situação
pelo regime político vivido em 1975 e 1976, designadamente o predomínio
dos militares, Durão Barroso referiu que até aos dias de
hoje muito se alterou no relacionamento de Portugal com as ex-colónias.
Considerando Angola como um país
que em termos de rendimento per capita tem hipóteses
de se transformar no mais rico do mundo, o secretário de Estado
frisou que o maior superavit da nossa balança comercial é
hoje com aquela ex-colónia, não existindo nenhum dos grandes
grupos económicos portugueses que não tenha já ou
não esteja em vias de ter interesses comerciais em Angola.
Rejeitando alguma “promiscuidade” – inevitável
com países com os quais os laços históricos se reflectem
em inúmeras relações interpessoais -, Durão
Barroso defendeu que a postura de Lisboa deve ser sempre de respeito pela
Soberania dos Estados, mesmo que as opções políticas
não coincidam com o modelo adoptado em Portugal.
A integração europeia possibilitou,
por outro lado, o reforço da cooperação com as ex-colónias,
caminho este que será de prosseguir independentemente de alguns
casos, como o de Moçambique onde se tem de proceder ao constante
reescalonamento das dívidas.
Refutando a óptica da História
como um tribunal, Durão Barroso não deixou, contudo, de afirmar
que muitos dos intervenientes directos no processo de descolonização
estão hoje a escrever livros e a coligir memórias que poderão
posteriormente ser analisadas.
O grande debate que o País tem de
fazer em relação à descolonização, que,
segundo Durão Barroso, provocou maiores traumas que a própria
colonização, “precisa do distanciamento da história,
sendo certo que hoje são as próprias ex-colónias a
assumirem um relacionamento privilegiado com Portugal”.
Ainda recentemente, lembrou Durão
Barroso, “os Cinco estiveram reunidos e realçaram o excelente momento
das relações com Portugal”
(In Jornal Diário de Notícias
- 17/05/1990) |