Manuel Alegre:
... e há uma situação de deterioração nas Forças Armadas. Porque, a partir de um certo momento, não só as Forças Armadas se recusam a manter uma posição defensiva, como pressionam os poderes em Portugal para um cessar fogo, ameaçam mesmo fazer um cessar fogo unilateral, confraternizam com os próprios movimentos e ajudam-nos a criar estruturas político-militares nos casos em que eles não as tinham. Portanto, há uma situação que é uma situação de quase colapso militar. Eu não estive em Moçambique, mas é o caso de uma Companhia no Norte de Moçambique, uma companhia Metropolitana que se rende em Almafra e depois desfila em Dar-as-Salem perante os dirigentes da Frelimo. Há uma célebre reunião de Nampula com várias comissões do M.P.L.A.! onde se ameaça fazer um cessar fogo unilateral e o pessoal dos helicópteros ameaça não reabastecer as tropas terrestres. E é nesta situação que se travam as conversações de ARGEL, o Acordo de Argel, o que leva, digamos, os movimentos a endurecer posições e depois se travam as conversações de Dacar, que são homologadas, que são aprovadas por todos os órgãos do Poder: São aprovadas pela Junta de Salvação Nacional, pelo Presidente da Republica, pelo Concelho de Estado e pelo Governo Provisório, onde estavam representadas todas as forças politicas. Só que o Presidente da República, General Spínola, exige, no que respeita ao Acordo de Dacar, que os Chefes Operacionais, e nomeadamente o General Costa Gomes, diga qual a situação militar. E ele de facto diz ao Conselho de Estado, no dia 8 de Setembro, que há um risco de colapso militar. Há um risco não só de confraternização como de rendição das tropas no terreno. Ora é esta situação militar que impossibilita a partir de certa altura que a descolonização tenha sido outra. Que impossibilita, porque houve uma derrapagem na situação militar. General Duarte Silva: Depois de ter conhecimento de 25 de Abril
continuamos a combater, porque nem em todos os sítios houve
o descalabro. Em Tete, no Mazote, nunca houve problemas. Continuamos a
combater até que veio uma ordem devidamente encaminhada, em que
acabamos de combater. Nunca tive problemas de consciência.
Programa apresentado por JOAQUIM FURTADO,
em 04/02/1991 na R.T.P.
Presentes neste Programa: Prof. Dr. Adriano Moreira
Reprodução a partir de Cassete-Video
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