MENSAGEM  DO  PROF.   JOSÉ  VEIGA  SIMÃO

Meus Caros Amigos

Sou um dos portugueses que teve a felicidade de servir Portugal  em África. Os anos passados em Moçambique, liderando uma equipe de eleição, na construção duma Universidade, correspondem a um dos períodos mais fascinantes da  minha vida.

Durante esse tempo aprendi a admirar e respeitar as centenas de milhares de portugueses europeus que, com trabalho e sacrifício, com indiscutível capacidade e inteligência, lançavam alicerces de novas Pátrias, numa visão de progresso e de criatividade.

Aprendi igualmente a respeitar e a amar os milhões de portugueses de todas as raças, nascidos em África, que visionaram uma nova sociedade, ansiavam por uma vida melhor e reivindicavam uma activa participação nas decisões sobre o seu destino.

Portugueses europeus e africanos, sem ignorar erros e desvios, eram irmãos solidários dum Futuro Novo, de grandeza e de maior justiça social.

Mas algumas das forças que se apoderaram do poder em 74, transformaram o nosso País num Laboratório de Ensaios Políticos e Sociais e espezinhando a História, obrigaram a separações violentas e contra-natura, semeando em Angola e Moçambique a desgraça e a miséria, a que hoje assistimos com amargura e tristeza.

A descolonização transformou-se em tragédia para Portugal e para os novos Países de língua portuguesa.

O idealismo e a generosidade sucumbiram a interesses sem Pátria e a ideologias sem rosto.  A independência contra Portugal, prevaleceu sobre uma independência com Portugal. E mesmo as novas Nações não nos podem estar agradecidas

Este doloroso processo deu origem a que vós sejais as vítimas sem defesa duma descolonização desumanizaste, que vos obrigou a um penoso regresso à Terra Mãe.

Em consequência o desenvolvimento de Angola e Moçambique atrasou-se mais de duas décadas, preço demasiado elevado para os povos daqueles Países.

O patriotismo não morreu em Portugal. E um reflexo vivo desse patriotismo deve ser a união de todos os portugueses na defesa de interesses legítimos dos seus cidadãos. Não podia deixar de estar a vosso lado.

E penso mesmo que mal irão as ideologias se não servirem a justiça. Por isso os partidos políticos devem apoiar inequivocamente as reivindicações dos portugueses que foram espoliados do seu património,  produto do seu trabalho honrado, tantas vezes irmanado com riscos de novas descobertas

Os nossos governos devem estar igualmente, sempre, ao lado dos portugueses que vieram do Ultramar. Será, aliás, essencial para fortalecer de modo exemplar a amizade com os Novos Países.

Por tudo isto importa encontrar soluções concretas para as reformas e pensões de funcionários e trabalhadores e para as indemnizações a empresários e proprietários, que foram esbulhados dos seus bens.

A defesa fundamentada dos vossos direitos não pode morrer num podre esquecimento, o que, aliás, seria negativo para uma cooperação leal de Portugal com os Novos Países de Língua Portuguesa.

Uma cooperação baseada na sadia fraternidade do Homem Português, com Povos e Terras que se amam de verdade.
 

Lisboa, 26 de Novembro de 1988

1º. Congresso Nacional dos Espoliados do Ultramar